quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
IRISMAR, O MESMO SANGUE DE PATATIVA.
"Ensinando a ver o mundo" não é apenas uma frase bonita, de efeito. Ao contrário, resume uma realidade cada dia mais palpitante, com exemplos abundantes de jovens cegos que alcançam vitória contra a deficiência e conquistam um espaço digno na sociedade.
Pedro Irismar de Alencar é um desses exemplos. Este rapaz é sobrinho do nacionalmente consagrado poeta popular Patativa do Assaré. De lá, do Assaré, ele veio para o Instituto já com 22 anos de idade. Fez ali o Curso Fundamental, mas não se contentou com isso. Para superar a defasagem da idade, matriculou-se numa escola regular onde concluiu, com assinalada competência, o curso denominado de "Madureza".
O passo seguinte foi o vestibular para História, passando direto na Universidade Estadual do Ceará. Impressionante: classificou-se em primeiro lugar.
O seu ideal era tornar-se professor de cegos, como uma espécie de contribuição à causa dos seus companheiros de deficiência. Especializou-se e hoje é, como sempre desejou, professor do Centro de Educação para Deficientes Visuais, órgão do governo estadual.
Nos bancos acadêmicos conheceu e amou uma deficiente como ele, casando-se, e constituindo um lar feliz.
Pedro Irismar vive honrada e destacadamente da sua profissão de professor, devotando-se às letras e, em particular, à poesia, nas pegadas do tio famoso.
Irismar Alencar
Irismar Alencar
Do talento poético deste homem extraordinário, que cegou já adulto, ilustramos a página seguinte com estes sentidos e bonitos versos de sua autoria:
VALEMOS O QUE SOMOS
AGONIZASTE A ERMO E NINGUÉM VEIO
CALAR TEU PRANTO OU OUVIR TEU GEMIDO
SOMENTE O TOSCO LEITO MAU VESTIDO
OUVIU CALAR-TE O CORAÇÃO NO SEIO
CHORAR POR TI NINGUÉM VIRÁ, EU CREIO
POIS NUNCA FOSTES POR ALGUÉM QUERIDO
SÓ POR NÃO TERES NUNCA POSSUÍDO
ALGO QUE NELES DESPERTASSE ANSEIO
MAS SE FOSSES POR ACASO UM MAGNATA
TERIAS AO CRÂNIO AURÉOLAS DE PRATA
ENTRE SOLUÇOS, ORAÇÕES E MIMOS
POIS PARA ESTA ATROZ HUMANIDADE
SERVA DO ORGULHO E DA INIQÜIDADE
VALEMOS NÓS O QUANTO POSSUÍMOS.
ENSINANDO E APRENDENDO
Realizado profissionalmente, ao lado de sua Leide, que perdeu a visão total alguns anos depois de casada, Irismar Alencar manda essa mensagem aos que padecem do seu mesmo drama:
"Importante é não se deixar levar pelo desânimo. Isto não nos leva a lugar nenhum. A revolta e a indignação não resolvem o nosso problema. Tenho minhas mágoas, mas consigo controlá-las. Continuo cultivando meu espírito grego de aprender e, quanto mais ensino, mais aprendo" – palavras suas à repórter Rose Mary Bezerra de Menezes, numa longa e comovente matéria publicada no Diário do Nordeste, de 28 de abril de 1991.
retirado do site:www.sac.org.br
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